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A transição de governo no Brasil para uma gestão mais voltada a pautas ambientais é um dos fatores que explicam o aumento dos preços dos certificados de descarbonização (CBios), que voltaram a superar R$ 100 a unidade após o mercado ter se acalmado com medidas do governo, disse à Reuters a analista de consultoria agro do Itaú BBA, Annelise Sakamoto.

As distribuidoras de combustíveis são obrigadas a adquirir esses certificados, como parte de um compromisso do país com a descarbonização. Esse custo é embutido nos preços dos produtos vendidos nas bombas.

Com a eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva, a expectativa do mercado é que as políticas públicas ambientais voltem a ser mais valorizadas, em uma mudança de rota em relação ao que se via até agora no atual governo de Jair Bolsonaro.

“Esse é um ponto que pode ter feito o preço subir, a expectativa de uma visão um pouco mais voltada para a pauta ambiental. De fato, depois do segundo turno, as negociações voltaram a ficar maiores”, disse Sakamoto.

Logo após a eleição, o CBio subiu mais de 7%, superando R$ 100, mantendo-se acima deste patamar ao longo de novembro.

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Desde o final de julho, quando o governo federal prorrogou o prazo para as distribuidoras cumprirem as metas de aquisição de certificados de 2022 para setembro de 2023, o preço médio do CBio não alcançava os R$ 100, o que mudou a partir de 1º de novembro.

Para o analista de petróleo, gás e renováveis da StoneX, Pedro Shinzato, um governo com uma política ambiental de viés mais forte tende a influenciar os preços dos CBios para cima, mas ainda é cedo para dizer que esse é o principal fator até agora.

“A gente entende que o preço é muito ligado ao apetite do comprador. Em agosto, segundo dados da StoneX, foram negociados 1,07 milhão de CBios, enquanto em outubro foram 2,5 milhões. Mas eu esperaria, sim, uma influência mais clara do novo governo (sobre os preços) mais para frente”, disse Shinzato.

“Foi o que aconteceu nos EUA, que tem um programa de renováveis semelhante ao RenovaBio, totalmente influenciado pelo presidente que está no governo. Agora, com o Joe Biden, voltou a ficar bastante alto”, acrescentou.

Outros fatores

Há outros fatores que também contribuem para o aumento dos preços, afirma Annelise Sakamoto, como distribuidoras que procuram fechar o balanço até o final do ano, a despeito da prorrogação do prazo, e a própria indefinição quanto às metas de aquisição para 2023.

O Ministério de Minas e Energia realizou uma consulta pública este mês sobre redução da meta para o ano que vem de 42,35 milhões, previstos anteriormente, para 35,45 milhões de CBios. A proposta foi bem recebida por distribuidoras, que veem o novo volume como uma oferta “possível” para o mercado.

Se mantida a meta anterior pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), os preços tendem a subir novamente diante do aumento da demanda. Por outro lado, a redução tende a frear uma possível escalada dos preços já a partir deste final de ano.

“E se a gente reduz as metas totais, os preços não tendem a voltar aos patamares de R$ 200”, disse Sakamoto, referindo-se ao preço médio recorde do CBio, registrado em junho.

Outro fator que pode contribuir para um arrefecimento nos preços para o ano que vem, dizem os analistas, é o possível aumento da mistura do biodiesel no diesel, embora em menor escala. Segundo dados a ANP, mais de 85% dos CBios emitidos neste ano vieram de vendas do etanol, enquanto apenas 14% vieram do biodiesel.

“Embora o biodiesel represente uma parcela pequena, é representativo. Quando temos um balanço mais apertado no lado da oferta, faz diferença”, disse Sakamoto.

Com maior produção de biodiesel, mais títulos CBios seriam emitidos pelos produtores do biocombustível.

Rafaella Barros – Reuters

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